segunda-feira, 25 de abril de 2011

Hoje a maior novelista de todos os tempos completaria 86 anos!


Hoje é o aniversário daquela que foi e é até hoje a maior novelista de todos os tempos, a Janete Clair. Apelidada por muitos de "Nossa Senhora das 8", Janete Clair revolucionou o jeito de fazer novelas, mas sobre as novelas iremos falar amanhã no blog.

Nasceu no dia 25 de abril de 1925 e hoje estaria completando 88 anos. Aos 56 anos, morreu vítima de um câncer em 83, a novelista cruzou o umbral da esperança e deixou seu nome escrito não só na dramaturgia brasileira mas na história do Brasil.

A algumas semanas atrás eu convidei a Renata Dias Gomes, neta da dramaturga, para que desse um depoimento para o Blog, mas não imaginei que chegaria ao ponto que chegou! A Renata chorou muito ao escrever e eu confesso que também não me contive, reli o texto várias vezes e todas as vezes que li novas lágrimas correram no meu rosto. Tenho certeza que os leitores do blog também irão se emocionar muito ao ler! A seguir o depoimento da Renata:

"Parei pra escrever sobre minha vó Janete e um filme passou pela minha cabeça. Vi no filme as várias outras vezes que fiz isso. Não por qualquer comemoração especial como é o caso da data de hoje, mas porque os sentimentos pediam pra sair pelas pontas dos dedos.

Fiz uma poesia aos doze anos, um texto melancólico aos quatorze, uma história infantil , quase um conto de fadas, aos sete. Todos os textos carregados de uma saudade que não vivi. Saudade de um tempo que não experimentei, mas permeia minha vida desde o nascimento.

Não conheço o cheiro da minha vó, escutei pela primeira vez na reprise de uma entrevista para a Leda Nagle. Já tinha uns 13 anos. Não lembro do seu toque, do seu olhar, do seu jeito. Sentia quando criança uma ponta de inveja do meu primo três anos mais velho que pode saborear a convivência por três anos. Eu tinha dois meses. Dois meses quando o Brasil parou para assistir o fim da novela da vida da maior dramaturga da nossa história. Quantas vezes ela fez o Brasil parar! E quis o destino que a última fosse naquele 16 de novembro de 83 quando eu tinha apenas dois meses.

Meus filhos aos dois meses eram capazes de sorrir. Respondiam com sorriso aos olhares de carinho. Será que um dia eu sorri pra ela? Não sei. Sei que ela sorriu pra mim. Não lembro, mas ouvi dizer. De tantas bocas que chego a imaginar aquele momento quando ela tirou forças que já não tinha para me conhecer e disse: ela é linda, Alfredo. Corujice exagerada de avó.

Parei um pouco agora. As lágrimas não deixam continuar. Devo uma explicação sobre esse texto que talvez não tenha lá muito nexo em alguns trechos. Estou escrevendo sem pensar. Deixando a emoção sair pela ponta dos dedos como fiz todas as vezes em que tive vontade de falar sobre a minha avó. Sim, a minha avó. Aquela que não conheci, mas aprendi a amar desde o primeiro instante.

O texto que escrevi aos quatorze dizia que sonhava ser por ela embalada. E só assim, só nesse dia, me sentiria plena. Não sinto diferente hoje aos vinte e sete. Aprendi a conviver com a saudade do que não vivi. A certeza de um reencontro me reconfortava quando criança. Hoje não sei mais se acredito nisso, mas a criança que mora em mim quer muito acreditar. E só por isso vive.

A imagem da minha avó sempre foi um retrato na parede da minha casa. O mesmo retrato, o mesmo sorriso, nas paredes dos três filhos e do pai deles. Mas pra mim sempre foi muito mais. Sempre foi adoração, admiração, amor. Um amor inexplicável. Como amar um quadro em preto em branco? Eu sempre amei. De um jeito que talvez não seja capaz de amar abraços de verdade. Aprendi a amar a memória. Senão a minha, a dos outros. E as histórias. Curioso que conheci a contadora de histórias pelas histórias. Não as que ela criou, essas são brilhantes, mas não eram as que mais me interessavam. As histórias que ela viveu.

Cresci escutando que quando soube que eu era uma menina, ela saiu pra me dar de presente todo o quarto de bebê. Ela era assim. Generosa. Uma grande mulher, uma grande mãe, uma grande avó. Cresci também escutando que ela "me esperou" nascer. Já sabia que estava muito doente e que não ficaria muito mais tempo por aqui. Mas, dizem, fez um último esforço para esperar a neta. Não sei se é verdade, mas sempre gostei de acreditar. E talvez faça sentido porque pouco tempo depois ela se internou pela última vez.

Não gosto de pensar no fim. Gosto de pensar na minha vó como a mulher forte que ela sempre foi. Forte, alegre, amiga. Aquela que oferecia chás inesquecíveis às amigas as sextas feiras. E promovia as mais maravilhosas festas de reveillon quando ao lado do marido sempre vestido com uma camisa do Flamengo, se permitia tomar um um leve pilequinho. Gosto de pensar nela como exemplo de mãe, que cuidava dos quatro filhos com dedicação enquanto escrevia um capítulo de novela por dia. Sofro quando penso na dor que ela sentiu ao perder o caçula. Foi quando passou a emendar uma novela na outra e ficou anos sem sair do ar. Cresci escutando que ela escrevia - sempre um capítulo por dia e sozinha! - com meu pai tocando bateria na sua cabeça, meu tio tocando trompete e minha tia escalando a parede atrás da casa. Terminava o capítulo, dava atenção aos três e ia ao açougue, à padaria, ao salão. Voltava e tinha uma ideia para uma nova novela.
Cresci escutando também o quanto ela me amou desde o primeiro instante. Eu nunca pude dizer. Mas sinto todos os dias.

Será que existe anjo da guarda? Não sei, mas tenho certeza que se existe, o meu tem nome e é Janete Clair. Vovó, te amo!"

Esse é só o começo de uma série de homenagens que serão feitas durante a semana no blog! Amanhã falarei um pouco sobre a carreira da Janete Clair.

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